sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ficar


























y5y6-deviantART



[...]

esquinas se repetem onde quer que esteja.

No início conviveu com elas: cansou

e as deixou para trás, foi alcançado

em cada abandono: escolhas requeridas,

olhares atravessado, a raiva

de não exercer a negação: nenhum

caminho é o destino

e em passos calmos

se afasta;

[...]

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

na procura de um eu imaginário

















utopic-man-deviantART


Nosso amor se mutila

a cada instante. A cada

instante agonizamos

ou agoniza alguém

sob o carinho nosso.

Ah, libertar-se, lá

onde as almas se espelhem

na mesma frigidez

do seu retrato, plenas!

É sonho, sonho. Ilhados,

pendentes, circunstantes,

na fome e na procura

de um eu imaginário

e que, sendo outro, se aplaque

todo este ser em ser,

adoramos aquilo

que é a nossa perda. E morte

e evasão e vigília

e negação do ser

com dissolver-se em outro

transmutam-se em moeda

e resgate do eterno.

[nova reunião]

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

no coração da magnólia


























Valérie Jacquemin


De repente a magnólia
pulsa, não digas a solidão.

Guarda tudo, pois a música escoa,
um rumor de chuva
mansa, cintila
no rastro da lua

e pulsa o coração,
chegam os seres da noite
de pálpebras carregadas
sonhos em filigrana,
o grito contido.

O orvalho acontece
por dentro, olhos recolhidos
na saudade, o frio,

de repente a magnólia
pulsa, e a escuridão
é um adágio, não digas a solidão.

Alguém que me lê
o centro do coração ilumina-se,
o poema flui e ouves
o canto, não as palavras
decepadas,
arrancadas à opacidade.

Ouves. No coração da magnólia.

o sabor de um nome



























Piotr Vasco Wasilkowski

a F.M.

Fere esse dardo, um pedaço de mim que entra em guerra consigo próprio. Chama que se atravessa na carne e luta contra o repouso que se busca. Duas asas que cobrem a terra e o corpo sangra. Duas asas lutando por erguer-se e libertar-se da terra. Lutando por elevar o rosto do anjo ao olhar de deus. Aí a luz, penetrando a densa camada que transforma o mundo em escuridão. A pele esticada sob o céu, os órgãos à transparência. O desejo. Como um tambor, a pele esticada, os nervos à superfície. Pequenos veios esverdeados, cruzando-se infinitamente. Um dédalo à visibilidade da pele, que estremece. O céu em cima, o inferno a suportá-lo. O corpo algures, a desejar o nome, em fúria adocicada de querer fundir-se num outro, de que procura o nome. Suspende-se nas asas do tempo, fulge na memória, procura o intervalo entre dois instantes. Nem passado nem futuro. O instante do Agora. O Aqui onde é. A pele estremece entre os lilases da noite, perde-se na saliva salgada do mar. O corpo enlouquece à procura do nome que o faz vibrar. Esse dardo traz consigo o sabor de um nome.

domingo, 25 de setembro de 2011

depois do frio, ainda...




















Zaratops-DeviantART


pisamos no chão o outono
e numa inspiração principiamos
o tempo que há-de vir:
as falésias, os lagos inundados de sol,
a casa habitada entre as árvores,
o silêncio essencial de todas as pedras.

pisamos como se bebêssemos o sentido,
como se em dez dedos coubesse o corpo
de uma mulher altíssima, sábia dos dias,
e a cama escutasse de noite a geração das coisas
sem que as paredes contivessem o ventre oculto.

dá-se em mim o sangue desse amor tão impensável
- na palavra que me leva os lábios o calor dos pulsos
depois acendo as lágrimas e desenho no ar as tuas mãos.


[um mover de mãos - um]

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

que me entendas a um palmo do peito




























Embrulho-me no silêncio da tua

chegada. O espelho turvo

do teu nome acelera em mim

a evidência deste corpo em

que persisto.

Fazes-me espesso, orgânico,

compacto em torno do absurdo forte

de nos imaginar reciprocamente

despenhados.

Pois sinto que caminho já no ar,

cada passo mais distante,

à espera da tua levitação, que me entendas

a um palmo do peito, enfim caídos

por consequência da rendição.

Entre nós e o mundo há

quinhentos metros

de grito.

que ficou por ter passado...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

quero-o nuvem...



























[latoday-deviantART]


Há mulheres que querem que o seu homem seja o Sol. O meu quero-o nuvem. Há mulheres que falam na voz do seu homem. O meu que seja calado e eu, nele, guarde meus silêncios. Para que ele seja a minha voz quando Deus me pedir contas.
No resto, quero que tenha medo e me deixe ser mulher, mesmo que nem sempre sua. Que ele seja homem em breves doses. Que exista em marés, no ciclo das águas e dos ventos. E, vez em quando, seja mulher, tanto quanto eu. As suas mãos as quero firmes quando me despir. Mas ainda mais quero que ele me saiba vestir. Como se eu mesma me vestisse e ele fosse a mão da minha vaidade.

[obrigada meu amor por me cuidares a 15 anos]

resplendes-me em silêncio






















tokarchuk-deviantART



[...]
que ao longe és tão perto e tão de ar como a atmosfera.
estou mais sílaba sem língua nem elo que nos ligue.
que o cheiro da alma é brilho e este ascende a pó de chama.
chamo-te dentro de um poço.
e resplendes-me em silêncio.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

serei menos do que sei...

























sea of ice
deviantART



Olhava para o que o meu corpo tem sido e pude ver que todos os retratos
escondiam num fio de oiro memórias inexistentes. Havia apenas uma criança
que gritava fogo e ao dizer fogo as lágrimas exclamavam uma dor perdida,
a dor de ter dor misturada com a dor de não saber dar-lhe nome.

Sobre as veias da mão bate o desespero, antigo, desde os tempos modernos,
reflectido agora na faca do creme do bolo, nas velas só belas
quando a luz faltava. Em todos os graus da luz deixei a pele, era um amor
que balbuciava o seu nome de trás para frente, mudei de razões num inverno.

Não desce devagar ao longo da cara a marca do tempo, apenas golpes
no espaço da semente a crescer, sobre ti caindo a minha mão adormecida,
o primeiro cabelo branco nessa cara de uma noite para outra.
Ah, se os homens pudessem dar cada um seu testemunho, com as imagens
fatais de amor e morte, ignorando toda a beleza à sua volta.

Três ou quatro caras encostadas olhavam as papoilas do campo, e era
como se olhassem espiões a atacar para ganhar poder. Um delírio
do meu sonho? Saía a rastejar de umas catacumbas sem uma única palavra.

Sai de mim, estéril desejo, ao gritar profundamente gargalhei
o mais que eu pude, quase até a forçar o riso. Todo o homem fingindo
ver pouco do corpo é cinza, é quase só tudo água.

Isto foi tudo um engano, até a vida instantânea que é de manhã à noite
bocejo, eu só sei que podia ser diferente a minha vida, podia,
mas não vai ser. Serei menos do que sei, mas se fosse tudo tão previsível
como a certeza de ver a sombra do meu nariz, a vida nem existia.

[...]


[lágrimas]

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

a vertigem da tua sombra

me deito sobre tudo quanto amei

























[...]
entre os mundos detecto a estranha forma dos anos
que vêm a ser os nossos, os meus, onde eu procuro caber,
e não só caber como exceder, infringir, ser louco
à revelia do rosto e da consoante, explodir como uma vogal.

porque se descobrirá o tamanho desta lágrima breve,
porque o verso está grávido do poema e o poema
de todo o mundo possível, e todo o mundo possível
aponta para a completude dos braços que não fechamos.
oscultamos as portas e as casa serão sempre imprevisíveis.

por isso me deito sobre tudo quanto amei
e, ao cair a gota de luz no silêncio onde vou nascer,
escolho a margem, a fronteira, a idade redonda de um lírio.


[um mover de mão - lírio]

sábado, 17 de setembro de 2011

suspenso em nada


























Lisa Rouge


Não sou o que te quer. Sou o que desce
a ti, veia por veia, e se derrama
à cata de si mesmo e do que é chama
e em cinza se reúne e se arrefece.
Anoitece contigo. E me anoitece
o lume do que é findo e me reclama.
Abro as mãos no obscuro. Toco a trama
que lacuna a lacuna amor se tece.
Repousa em ti o espanto que em mim dói,
noturno. E te revolvo. E estás pousada,
pomba de pura sombra que me rói.
E mordo teu silêncio corrosivo,
chupo o que flui, amor, sei que estou vivo
e sou teu salto em mim, suspenso em nada.


[noturno]

o que soube esqueci...

em algum canto da sua mala...

















Violator-DeviantART


Em algum canto da sua mala
Deve haver uma palavra que não foi dita,
um gesto de carinho que não foi dado.
Em algum canto da sua mala
Deve haver uma lágrima perdida,
um soluço cortado, uma saudade danada.
Em algum canto da sua mala
Deve haver um sonho desfeito,
um nó no peito e um desejo acabado.
Em algum canto da sua mala
Deve haver batendo iludido, gemendo sofrido,
Um coração despedaçado.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

asas desenhadas no meu riso

mas não de ti


























exmomentum-deviantART


Não está chovendo
para abaixar a cabeça.
Cogitei desistir de mim,
mas não de ti.
Fingia morrer
como quem dorme mais cedo
e acorda quando a casa dorme.

Os dias em que
não estava contigo
são criminosos.
Falta-me um álibi
para dizer onde eu estava.
Há dias que não existem
porque não me convenci de nascer.
É dolorido rir sozinho,
mais dolorido do que não rir.

O lago cansa de receber pedrada.
Cogitei desistir de mim,
mas não de ti.
[...]

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ter vindo, ter sido.






















Guardaremos juntos
os acertos, breves,
os enganos, fundos,

e aquele remoto
amparar de parcos,
altivos escolhos.

Cairão o signo
e a secreta cinza
desse ardente enigma.

Não lamentaremos
mais que o desencontro
dos humanos termos,

a rápida marca
que o passado imprime
na face, na máscara,

e os puros despojos
que às vezes são versos
e sempre são ossos.

Não diremos nada
dos velhos desejos
que a memória abraça,

sem qualquer palavra
não recordaremos
o que nos pesava,

mas apenas isso
que nos pese ainda:
TER VINDO, TER SIDO.


[flautm]

nós os de céus ardendo


























Nós
............os de cinza e tempo
nós os de olhar barrado
nós os de céus ardendo
e ventos desfigurados
nós os de mito e queda
nós os de mãos atadas
ecos
...........desdobrando
................................gritos
mudos mantos desdobrados
nós silenciados muros
de desesperos caiados
nós cegos irmãos em luto
por mundos manietados
nós sonâmbulos
.....................remotos
nós vagos
só recordados
os estáticos andantes
escuramente pisados
nós os egressos da sede
diuturnamente velada
nós o exílio de nós mesmos
viva lâmpada apagada
nós entre o infinito e o medo
esparsos
.............desencontrados
nós frios
de cinza e tempo
em tempo e cinza
..........................encerrados

[fragmento de um coro]

terça-feira, 13 de setembro de 2011

as mãos inquietas de ternura


























kudrett-deviantART



Não presto contas a ninguém. As frases, já velhas,
suspendem intrigas de circunstância. Com algas
plantadas à cintura para equivocar os navios,
assinalo no mapa o lugar onde o sol, ao nascer,
torna visível qualquer sinal de ausência. E vou por aí,
ao sabor do vento, com a lua a pique nos sentidos.

Aconteça o que acontecer, amor, protege a minha fuga
com o teu olhar. Um sonho não se toma sem luta.
Sabem-no as tuas mãos inquietas de ternura.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

se não estivesses,




















valentina vallone


se a concha dos teus dedos
não fizesse vibrar em mim,
gota a gota,
a tua voz,
se não esticasses os braços
sobre um qualquer
espaço
que nunca será nosso,
se o teu sorriso
agora distendido
não se mostrasse todo
nos gestos do amor,
se a tua mão não procurasse
a minha, ou os meus dedos
não pudessem, ainda
que ao de leve,
tocar a ponta frágil dos teus cabelos
escuros,
se eu não encontrasse
em ti o meu olhar,
às vezes,
quando finjo que não vejo
o teu olhar
em mim,
se os dias não fossem
confortados
com a ideia de que existes
sensivelmente existes,
e que, por isso, de alguma
forma, eu sou em ti
a minha forma de existir
- estas palavras, as frases
que as expõem, o poema
em que tudo se articula, no íntimo
sentido que só existe
dentro do poema, tudo o que
é
e, ainda,
o que possa caber em nós, secretamente,
seria uma triste passagem
pelo que resta
e nem os meus olhos, e nem as minhas
lágrimas
diriam o que dizem;
porque a mão que escreve, o seu último
argumento, está
na concha dos teus dedos
e no gemido que atraiçoa
a tua voz.

o outro lado do querer...





















alexanderb-deviantART



Não: é só saber
o que de ti afastas,
quando a noite implausível
te chama e te reduz.
É só ousares, de ti,
a pálida renúncia, a súbita agonia
em que afogas
o esplendor do dia,
o outro lado do querer,
estar, sentir ou adiar.
Não: nem olhar no vento,
perdido ou encerrado,
nem o esboço de um dedo
que se encaminha para ti.
Nem dor de amar, nem vergonha de pedir
o que sem sequer pedires
te é dado, ou, antes,
o que de ti for procurado
na curva que antecede o teu primeiro
não.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

só a raiz é o fruto

























Nem flor nem folha mas
raiz
absoluta. Amarga.

.....Nem ramos nem botões. Raiz
..........íntegra. Sórdida.

.............Nem tronco ou
.............caule. Nem sequer planta
............_ só a raiz
...............é o fruto.


[poesia reunida - origem]

como se hoje fosse infância



























A porta está aberta
como se hoje fosse infância
e as coisas não guardassem pensamentos
formas de nós nelas inscritas.

A porta está aberta. Que sentido
tem o que é original e puro?
Para além do que e´humano o ser se integra
e a porta fica aberta. Inutilmente.


[poesia reunida - revelação]

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

atalhos






















Não constitui segredo
contam a sua história
mesmo se por atalhos
as coisas insignificantes de uma vida

assim o fragmento que reconheço
tanto tempo depois
escrito num caderno

“...reencontrarei ainda o vento dessa praia
de que me despeço
nos penhascos frente ao mar
o caminho abandonado...”

reencontrarei ainda
a expressão distraída que me deixava
a um passo daquilo que nem hoje sei?


[Baldios – José Tolentino Mendonça]

quando esperar o nada é tudo...


























andrey dubinin


Esperar sentado, mas sem
relaxar os músculos. Mãos
tensas nas coxas como quem
prestes a se levantar. Não

como quem, à espera, descansa.
E sim como se encurralado
na cadeira. Sem esperanças
nem expectativas. Sentado


na cadeira como quem não
espera exactamente nada.
Sem certezas, com exceção
da única, e indesejada.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

quem sabe o que é para si-mesmo?





















Somos quem não somos, a vida é pronta e triste. O som das ondas à noite é um som da noite; e quantos o ouviram na própria alma, como a esperança constante que se desfaz no escuro, com um som surdo de espuma funda! Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram! E tudo isto, no passeio à beira-mar, se me tornou o segredo da noite e a confidência do abismo. Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amámos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que não havíamos amado; que julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era uma emoção, e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar...
Quem sabe sequer o que pensa e o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo? Quantas coisas a música sugere e nos sabe bem que não possam ser! Quantas a noite recorda e choramos e não foram nunca! Como uma voz solta da paz deitada ao comprido, a enrolação da onda estoira e esfria e há um salivar audível pela praia invisível fora.
Quanto morro se sinto por tudo! Quanto sinto se assim vagueio, incorpóreo e humano, com o coração parado como uma praia, e todo o mar de tudo, na noite em que vivemos, batendo alto, chasco, e esfria-se, no meu eterno passeio nocturno à beira-mar!


[livro do desassossego – 95]

domingo, 4 de setembro de 2011

O meu amor não cabe num poema






















human-bean


O meu amor não cabe num poema ― há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
os quartos que os gestos não preenchem.


O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto ―
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura a mão que protege a chama que estremece.


O meu amor não se deixa dizer ― é um formigueiro
que acode aos lábios com a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente os segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.


O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome ― é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. nenhum poema
podia ser o chão a sua casa.

um lugar mais sereno para as memórias

























kleineaster
-deviantART


Guardava alguns silêncios e também as coisas
que não dissera por acaso. Guardava gora também
esses acasos, brancos recados entre as palavras
que lhe sobravam nas gavetas. E ainda assim guardaria
para sempre essas palavras, ou a imagem de lábios a
dizê-las ― um rosto ainda sem ser triste lembrando o verão.


Teria aguardado esse verão, o cheiro quente dos morangos
à beira os dedos. E tê-lo-ia sobretudo guardado,
como guardava agora, sem nunca o ter ouvido, o som
das espigas, na planície, à passagem do vento.


Mas agora só podia aguardar a passagem do tempo
sem palavras; ou um vento de feição, um acaso
que tudo justificasse. E no silêncio em que se ia guardando
buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias.


de mim não me livras




sábado, 3 de setembro de 2011

sou eu

























[livro do desassossego]

o poder perder tudo esplendidamente...


























Bigboy Denis


Tudo quanto amamos ou perdemos – coisas, seres,

significações – nos roça a pele e assim nos chega à alma,

e o episódio não é, em Deus, mais que a brisa que me não

trouxe nada salvo o alívio suposto, o momento

propício e o poder perder tudo esplendidamente.


[livro do desassossego]